Oi, bem vindo. Sinta-se em casa! Sente no nosso banquinho, aprecie as flores e as borboletas, espero que goste dos textos, da visita...e que retorne!
Quando eu for, um dia desses, poeira ou folha levada no vento da madrugada, serei um pouco do nada invisível, delicioso que faz com que o teu ar pareça mais um olhar...
Mário Quintana
Saturday, March 11, 2006
PRIMAVERA
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega. Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol. Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz. Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação. Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou. Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Cecília Meireles, texto extraído do livro Obra em Prosa
Tela Primavera - Emiliano Briales
Postado Por Destinyth Hora 7:40 PM
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Friday, March 10, 2006
Sou de vidro
Obra Na sombra - Maria Helena Cunha
Meus amigos sou de vidro Sou de vidro escurecido Encubro a luz que me habita Não por ser feia ou bonita Mas por ter assim nascido Sou de vidro escurecido Mas por ter assim nascido Não me atinjam não me toquem Meus amigos sou de vidro Sou de vidro escurecido Tenho fumo por vestido E um cinto de escuridão Mas trago a transparência Envolvida no que digo Meus amigos sou de vidro Por isso não me maltratem Não me quebrem não me partam Sou de vidro escurecido Tenho fumo por vestido Mas por assim ter nascido Não por ser feia ou bonita Envolvida no que digo Encubro a luz que me habita.
Lídia Jorge
Postado Por Destinyth Hora 9:08 PM
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Wednesday, March 08, 2006
"Cuida-te muito em fazer chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A mulher foi feita da costela do homem: não dos pés para ser pisoteada, nem da cabeça para ser superior e sim, do lado, para ser igual. Debaixo do braço, para ser protegida e do lado do coração para ser amada"
Talmud Hebráico
Postado Por Destinyth Hora 7:39 PM
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Tuesday, March 07, 2006
Suavidade
Pousa a tua cabeça dolorida Tão cheia de quimeras, de ideal, Sobre o regaço brando e maternal Da tua doce Irmã compadecida. Hás-de contar-me nessa voz tão qu'rida A tua dor que julgas sem igual, E eu, pra te consolar, direi o mal Que à minha alma profunda fez a Vida. E hás-de adormecer nos meus joelhos... E os meus dedos enrugados, velhos, Hão-de fazer-se leves e suaves... Hão-de pousar-se num fervor de crente, Rosas brancas tombando docemente, Sobre o teu rosto, como penas de aves...
Florbela Espanca
Postado Por Destinyth Hora 7:19 PM
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Monday, March 06, 2006
MULHER DA VIDA, MINHA IRMÃ
Mulher da Vida, minha Irmã. De todos os tempos. De todos os povos. De todas as latitudes. Ela vem do fundo imemorial das idades e carrega a carga pesada dos mais torpes sinônimos, apelidos e apodos: Mulher da zona, Mulher da rua, Mulher perdida, Mulher à-toa. Mulher da Vida, minha irmã. Pisadas, espezinhadas, ameaçadas. Desprotegidas e exploradas. Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito. Necessárias fisiologicamente. Indestrutíveis. Sobreviventes. Possuídas e infamadas sempre por aqueles que um dia as lançaram na vida. Marcadas. Contaminadas, Escorchadas. Discriminadas. Nenhum direito lhes assiste. Nenhum estatuto ou norma as protege. Sobrevivem como erva cativa dos caminhos, pisadas, maltratadas e renascidas. Flor sombria, sementeira espinhal gerada nos viveiros da miséria, da pobreza e do abandono, enraizada em todos os quadrantes da Terra. Um dia, numa cidade longínqua, essa mulher corria perseguida pelos homens que a tinham maculado. Aflita, ouvindo o tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras, ela encontrou-se com a Justiça. A Justiça estendeu sua destra poderosa e lançou o repto milenar: “Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”. As pedras caíram e os cobradores deram s costas. O Justo falou então a palavra de eqüidade: “Ninguém te condenou, mulher... nem eu te condeno”. A Justiça pesou a falta pelo peso do sacrifício e este excedeu àquela. Vilipendiada, esmagada. Possuída e enxovalhada, ela é a muralha que há milênios detém as urgências brutais do homem para que na sociedade possam coexistir a inocência, a castidade e a virtude. Na fragilidade de sua carne maculada esbarra a exigência impiedosa do macho. Sem cobertura de leis e sem proteção legal, ela atravessa a vida ultrajada e imprescindível, pisoteada, explorada, nem a sociedade a dispensa nem lhe reconhece direitos nem lhe dá proteção. E quem já alcançou o ideal dessa mulher, que um homem a tome pela mão, a levante, e diga: minha companheira. Mulher da Vida, minha irmã. No fim dos tempos. No dia da Grande Justiça do Grande Juiz. Serás remida e lavada de toda condenação. E o juiz da Grande Justiça a vestirá de branco em novo batismo de purificação. Limpará as máculas de sua vida humilhada e sacrificada para que a Família Humana possa subsistir sempre, estrutura sólida e indestrurível da sociedade, de todos os povos, de todos os tempos. Mulher da Vida, minha irmã.
Cora Coralina
Postado Por Destinyth Hora 5:02 PM
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Sunday, March 05, 2006
Hino à Paz
Só a paz, Salva a Terra! Só a paz, Une os povos! Só a paz, Traz o bem! Só a paz, Salva este Planeta! Não! à guerra! Não! à dor! Não! à morte! Haja amor! Nós somos irmãos, Somos a vida! Vem! Me abraça! Vamos viver! Venham, Nações! Vamos pensar, Que vale a pena, Viver e amar! Tanto ódio, Entre Irmãos Tanta sede, de Poder! Tantas vidas, Que se perdem, Na falsa ânsia, De vencer! Só a paz! Só a paz! Só a justiça, Traz a união! Só a esperança, Vence o mal! Paz! Paz! Paz!